Jogamos nessa semana o OATH, jogo do mesmo autor de Root e com uma temática ou pelo menos ilustrações bem semelhantes...
O jogo que tem um forte referencial lúdico, e mais que um jogo é um universo, é deveras interessante. Um dos jogadores da noite o Rafael Luft (o Eu sou o Viking, do BoardCast Brasil) fez um review e colocou sobre o vídeo gravado pelo Vitto em time lapse... ainda acrescento
LUFT: "Jogo estranho. Complicado no início, que só foi aliviado pelo setup bem
organizadinho e um primeiro turno pré-determiando pra 4 jogadores. Como
outros jogos do Cole Wehrle, tem regrinhas e subsistemas para muitas
coisas - mas tudo flui bem, especialmente depois desse primeiro turno de
exemplo. Deu pra pegar no tranco rapidinho.
Com três tipos diferentes de "recursos", é meio pesado para organizar
bem o que fazer no turno, especialmente pelas maneiras diferentes como
cada um desses recursos é produzido. O downtime acaba sendo meio grande,
mas não senti pesar tanto na mesa - acompanhar o turno alheio não é
maçante.
O sistema de ataques é interessante também, pois permite atacar várias
coisas diferentes do adversário. É um jack-of-all-trades, permitindo
atacar bem no que o jogador está mais forte pra ganhar tempo e dar uma
enfraquecida nele - justamente naquele aspecto específico em que aquele
jogador está se destacando, sem acabar destruindo o resto do jogo dele.
A exploração é igualmente bacana (compra-se 1 a 3 cartas do topo de uma
das pilhas do jogo: o deck do mundo, ou qualquer um dos três descartes),
com personagens aparecendo e tu tendo que escolher apenas um para usar -
o resto do que foi comprado vai para um dos descartes, que é de fácil
acesso para os demais jogadores. Isso gera uma dinâmica bem
interessante, inclusive tu sabendo onde as cartas descartadas vão e
podendo ir atrás delas para comprar algo que tu queria mas não pode usar
na hora. Da mesma forma, se algum efeito fizer descartar cartas já
jogadas elas também podem ser recuperadas comprando do topo do descarte
pra onde ela foi.
Os jogadores, assim, tem relativa liberdade para ir fazendo seu jogo
como quiserem. Se alguém está se destacando muito com algo, ou abusando
de um combo muito bom entre cartas de personagem, é fácil pra um outro
jogador resolver isso especificamente - descartando a carta, ou atacando
somente um território para uma vitória de combate fácil, sem
necessidade de muito investimento nem muitas perdas e já possibilitando
uma mudança no eixo de forças do jogo. Especialmente considerando que as
rolagens de defesa são pouco consistentes.
Mas duas coisas chamaram especial atenção no jogo: a primeira delas é o
fato de ter muita sorte envolvida, especialmente nas rolagens de dado
(rolei 5 dados de defesa 3x durante a partida, e os resultados foram 0,
2, e... 16! - todas contra um ataque consistente que variou de 4 a 7).
O resto do pessoal achou mais neutra, me pareceu, essa parte do jogo. "É
um wargame, faz parte", disseram. Eu, que não gosto muito de
aleatoriedade, achei bem negativo (e achei que minha vitória, ao me
defender de um ataque com 16 de defesa, foi um grande cara-ou-coroa. Se a
rolagem tivesse sido ruim - e poderia - eu teria certamente perdido a
partida).
A segunda característica é que o jogo tem um potencial de kingmaking
GIGANTESCO. É claramente incentivado, inclusive. Isso eu curti bastante,
apesar de não ter acontecido na nessa nossa primeira partida. O nosso
Chanceler demorou demais pra oferecer cidadania pros exilados, e quando a
coisa apertou pra ele ninguém quis. Também houve momentos em que quando
um jogador estava às portas de vencer, ninguém nem tentou se aliar a
ele pela promessa de cidadania ou benefícios na próxima partida.
Eu costumo dizer que em jogos com possibilidade de kingmaking vence o
melhor jogador, e não o melhor matemático. E jogar melhor inclui lidar
com o metagame, jogar fora da mesa, não comprar brigas sem motivo e ser
cordial. Isso pode ajudar a fazer aliados informais, e incentiva esses
aliados informais a escolherem a ti para vencer ao invés do outro cara
que bateu nele sem motivo mais cedo. E nesse jogo, isso é incentivado!
Em nossa partida, a última rodada foi basicamente um jogador tendo que
eliminar a condição de vitória do próximo, pra fazer o jogo durar mais e
cada um tentar vencer sozinho. O Chanceler tentou evitar isso,
convidando um exilado a ser cidadão, mas não valia a pena - o Chanceler
estava com o jogo ganho pra ele se isso tivesse acontecido. Por isso
que, quando eu consegui defender o ataque que comentei mais cedo, eu
venci. Mas se qualquer um dos jogadores anteriores tivesse feito um
acordo com o seu próximo ao invés de lutar contra ele, o jogo teria
acabado antes - sem rolagem de dados.
O vencedor se torna o Chanceler na próxima partida, e, como resultado da
vitória, pode agraciar outros exilados com um título de cidadão! Essa,
por exemplo, pode ser uma interessante moeda de troca para garantir
ajuda para vitória. Além da escolha de quais naipes serão favorecidos
como resultado da partida. Tudo isso pode ser prometido em troca de
apoio para vitória - não é vinculante, mas se a promessa não for
cumprida tem que ser quebrada ali, na hora, na cara dura no epílogo da
partida.
O fator sorte pesado do jogo (e a aparente vantagem do atacante, pela
maior consistência nas rolagens) é contrabalanceada pelo claro incentivo
ao kingmaking, como mecânica do jogo. Numa próxima partida, eu já devo
lidar com isso de forma diferente: dificilmente vá apostar em ganhar
sozinho. Devo tentar garantir uma parceria, pra ter um benefício na
próxima, ou oferecer esse benefício pra vencer ao invés de apostar nos
dados."
Sobre uma situação de final de jogo e mais Storytelling o outro jogador Patrick (dono do jogo) falou sobre a rolagem final.
Patrick: "o Chanceler partiu com seus exércitos para acabar com a Insurreição do Exilado Vermelho na Costa Verdejante, mas lá chegando encontrou a população do reino em total apoio à insurgência. Crentes numa nova Visão baseada no poder do Povo, os insurgentes derrotaram por fim o Chanceler na batalha que se seguiu e puseram fim a seu governo tirânico.
Pra mim foi isso que o 16 no dado representou. O povo unido contra o Chanceler."
Em tempo o endereço do PODCAST do amigo LUFT:
Por fim ainda não tenho uma opinião formada sobre o jogo, mas seu lúdico, sua historia e a forma como, pelo menos esse grupo, entrou no Universo de OATH foi contagiante....